As recentes enchentes no Rio Grande do Sul, estado que se destaca como o maior produtor de arroz do Brasil, trouxeram à tona uma crise que vai além dos danos imediatos. A perda de cerca de 23 mil hectares de arroz, conforme reportado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), evidencia não apenas um enfraquecimento significativo para a atual produção, mas também lança uma sombra preocupante sobre as safras futuras. Esta catástrofe natural pode desencadear uma série de desafios que ameaçam a estabilidade e a sustentabilidade da produção de arroz na região.
A inundação de vastas áreas de plantações não apenas destruiu colheitas em andamento, mas também comprometeu a fertilidade do solo. A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que a produção nacional de arroz em 2024 pode cair em até 10% devido às enchentes. O excesso de água pode levar à lixiviação de nutrientes essenciais, reduzindo a produtividade das lavouras em ciclos subsequentes. O solo encharcado pode levar meses ou até anos para se recuperar plenamente, o que significa que as próximas safras de arroz poderão enfrentar uma redução considerável em rendimento.
Além da degradação do solo, as enchentes causaram danos substanciais à infraestrutura agrícola, incluindo sistemas de irrigação, estradas e equipamentos. A recuperação dessa infraestrutura demanda tempo e recursos financeiros, representando um ônus adicional para os agricultores que já enfrentam margens de lucro estreitas. Com os custos de reconstrução e reabilitação elevados, muitos produtores podem ter dificuldade em investir nas próximas plantações, comprometendo ainda mais a produção futura de arroz.
A resposta do governo federal brasileiro incluiu a autorização para importação de até um milhão de toneladas de arroz beneficiado ou em casca, na tentativa de garantir o abastecimento interno e controlar os preços. No entanto, essa medida emergencial é apenas uma solução temporária. Para assegurar a sustentabilidade a longo prazo, é essencial que se adotem políticas e investimentos robustos voltados para a resiliência agrícola.
A adaptação às mudanças climáticas e a mitigação de seus efeitos tornam-se cada vez mais urgentes. Investir em tecnologias como a produção de arroz de sequeiro e sistemas de irrigação eficientes, pode ajudar a proteger as lavouras contra futuros eventos climáticos extremos. Além disso, a diversificação das culturas pode reduzir a dependência do arroz, permitindo uma distribuição mais equilibrada dos riscos.
*Bruna Kroth é professora do curso de Agronomia da Faculdade Anhanguera