As chuvas voltaram a cair nas principais regiões produtoras de Mato Grosso acelerando o ritmo do plantio da soja em muitos municípios. Contudo, mesmo com o avanço dos trabalhos no campo, a escolha pelo milho como cultura de segunda safra ainda causa incertezas, o que pode fazer a cultura perder espaço em locais com a semeadura da oleaginosa mais atrasada.
O plantio da soja atingiu na última semana 79,56% da área prevista no estado, conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Apesar do avanço, os trabalhos seguem atrasados em relação à mesma época do ano passado, quando Mato Grosso contava com 83,32% do grão plantado.
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A preocupação do setor produtivo do estado é grande, de acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja Mato Grosso), Lucas Costa Beber, uma vez que também houve atraso no plantio da safra 2023/24 em decorrência as adversidades climáticas causadas pelo fenômeno El Niño.
“Por mais que tenha prejudicado a soja, nós conseguimos antecipar o plantio do milho ou readequar a janela, devido às altas temperaturas que encurtaram o ciclo da soja. Já esse ano o cenário é diferente. Isso já tira a soja fora do fotoperíodo normal ao qual as variedades são programadas, o que pode interferir na produtividade. Mas, o que preocupa mais é a segunda safra de milho”, diz ao Canal Rural Mato Grosso.
Nordeste é o mais atrasado
O relatório de plantio do Imea revela que a região médio-norte é a mais avançada nos trabalhos com 93,33% da área cultivada. Na outra ponta está a região nordeste com apenas 59,46% da semeadura realizada.
Em Água Boa, comenta o presidente do Sindicato Rural, Geraldo Delai, os produtores estão cautelosos.
“Nós sofremos muito o ano passado com a seca. Apesar de estar chovendo, não tem uma regularidade normal como tínhamos em anos anteriores. É claro que o produto está se sentindo muito preocupado e ansioso. Se ele errar mais uma vez, ele fica de fora do mercado e os preços não estão colaborando e não vemos uma expectativa de bons preços. Nós já temos dificuldade de crédito. Então essa dificuldade por causa das Recuperações Judiciais, das revendas, está fazendo com que os produtores sejam mais cautelosos”.
De acordo com Geraldo Delai, em Água Boa cerca de 40% da área de soja está plantada.
Em Canarana, município vizinho, a implantação da oleaginosa está mais adiantada e deve ocupar uma área de 330 mil hectares nesta safra 2024/25, segundo o presidente do Sindicato Rural, Alex Wisch.
“A gente estima que nesta última semana deu uma adiantada muito boa. Acreditamos que esteja entre 60% e 70% do município plantado. Hoje está muito rápido o plantio. A maior parte dos produtores estão bem preparados, trocando turno, fazendo 24 horas de plantio direto. Então consegue recuperar esse atraso. O que às vezes levava 10, 15 dias, acaba fazendo em uma semana”.
Alex Wisch frisa ao Canal Rural Mato Grosso que o cenário em 2024 “voltou ao que estava há sete, oito, 10 anos atrás com o pessoal esperando ter umidade no solo para fazer um plantio certeiro, não errar. Tanto que são poucos os relatos de replantio. E, nesses últimos três, quatro anos, tivemos muito replantio”.
Milho e gergelim disputam espaço
A cautela dos produtores hoje com a soja pode trazer impactos negativos para a produção de milho, que na última temporada já perdeu espaço significativo no território. Um dos destaques foi o gergelim, que na época estava mais atrativo e acabou ocupando cerca de 200 mil hectares em Canarana, município considerado a capital nacional na produção da cultura.
Este ano, devido à grande oferta de gergelim, o preço pago pelo grão está menor. Contudo, mesmo assim a expectativa é que a cultura novamente seja destaque na preferência do agricultor, como principal alternativa de segunda safra.
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Canarana, comparado com o ano retrasado, o município teve a sua área de milho reduzida em 50%, de 160 mil para 80 mil hectares. A perspectiva nesta safra é que “não baixe mais desses 80 mil hectares”, porém não é descartada uma redução diante do atraso com a soja e, principalmente, diante dos custos com o cereal. Ele destaca ainda que a área de gergelim deverá aumentar.
“O milho acredito que não vai mudar o cenário do ano passado, o que não fecha a conta. Hoje, o preço ofertado para nos produtores, infelizmente, você tem que colher acima de 100 sacas de média se quiser pelo menos empatar. Nos custos de hoje está dando 90 sacas de custo. O pessoal está tirando o pé e acredito que vai repetir o ano passado”, completa.
Na última temporada o produtor Diego Dall Asta utilizou 100% da área da propriedade com o cultivo de gergelim na segunda safra. Para o ciclo 2024/25 ele acredita em um cenário favorável para o milho e pode mudar a estratégia de manejo, como relata ao Canal Rural Mato Grosso.
“O preço caiu bastante e a gente sabe que as empresas estão com muito produto estocado, que provavelmente vai chegar ao final do ano com gergelim ainda dessa safra antiga. Estamos repensando a estratégia. Acredito que será em torno de 50% de gergelim e 50% de milho. Vamos aproveitar a janela ideal do milho até o dia 15 de fevereiro e dali para a frente fazer gergelim. Vamos fazer um mix de plantas dentro da janela para ter uma garantia de comercialização”.