Com as eleições municipais ouvimos candidatos a prefeito falarem sobre mobilidade urbana, porém quando tratam do assunto, citam vias, trincheiras, viadutos e transporte coletivo de massa. Ignoram o transporte individual de pessoas (e de maior intensidade): os pés. Consequentemente, ignoram as pistas caminháveis, assunto já abordado por mim em outro artigo anos atrás.
Podemos usar o transporte que for, sempre finalizaremos o caminho como pedestres. Entre a casa e o terminal, entre o estacionamento e o trabalho, sempre os pés ou cadeiras de rodas é que terminam a trajetória. Para tanto os trajetos devem estar em perfeitas condições de conforto e segurança.
Quando as vias estão esburacadas chegam reclamações aos órgãos responsáveis e/ou meios de comunicação, porém o mesmo não ocorre com calçadas intransitáveis. Tem-se a impressão que veículos automotores são mais importantes que pessoas, eles estragam, estouram pneus e isso é caro. Desconsideram que pessoas podem se machucar ou perder a vida pelas condições das calçadas.
A maioria das cidades cobram do proprietário do imóvel a construção e manutenção das calçadas, apesar de serem públicas e integrantes do sistema viário. Não há padronização, não há controle de qualidade. Há calçadas corroídas pelo tempo que o “mato” tomou conta, com desníveis, com obstáculos diversos como entulhos, móveis, eletrodomésticos, veículos estacionados ou à venda, mesas/cadeiras de bares e restaurantes. A arborização é ausente. Diz-se que atrapalham a acessibilidade, mas na realidade elas são extirpadas para dar visibilidade às fachadas comerciais.
A situação nos leva a crer que os governantes não se deslocam com os próprios pés e assim não sentem a realidade da maioria da população, obrigada a transitar por pistas intransitáveis. Circulam de seus residenciais aos locais de trabalho ou de lazer em veículos automotores, desconhecem a cidade a pé. Para exercitar usam as academias e pistas privadas. Enquanto para grande parcela da população, uma simples caminhada demanda o deslocamento até os poucos parques disponíveis. Atividade que poderia ser corriqueira nos trajetos diários da população, bastariam pistas acessíveis.
Sugiro aos gestores que pensem na mobilidade pedonal viabilizando o transporte das pessoas pelos próprios pés. Para tanto, o município deve se responsabilizar pelas calçadas, ao menos dos corredores de transporte coletivo. Essas devem oferecer acessibilidade universal e conforto, dispor de equipamentos urbanos e sobretudo arborização. E ainda, a constante fiscalização para que nada impeça ou dificulte o trânsito de pessoas, principais atores das cidades.
*Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista, foi Diretora de Pesquisa e Informação do Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá, Assessora técnica do CAU/MT e Diretora de Planejamento da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá. [email protected].