03 de Novembro de2024


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ARTIGOS Terça-feira, 16 de Maio de 2023, 07:00 - A | A

Terça-feira, 16 de Maio de 2023, 07h:00 - A | A

É possível uma educação neutra

Uma ação para além do conteúdo

Pensar a escola é pensar na organização da sociedade. A escola está dentro de uma organização política da sociedade. A escola é o espaço de encontro do diferente e se configura como espaço de contradições. É o local do desmascaramento da desigualdade social. “A consideração do homem como ser histórico implica necessariamente considerá-lo como ser social e, mais do que isso, como ser político. (PARO, 2010)

Diante do exposto, como refletir sobre a concepção de uma educação neutra, visto que a educação se dá entre a relação dos sujeitos que a compõem.  

Partindo do conceito de que o homem é um ser histórico é considerar que ele se constitui ao longo da sua vida, através de suas vivências, das suas relações, do seu trabalho, das suas crenças e da sua cultura, com isso constatamos que todo ser humano é um ser social e como ser social é um ser político. Para se constituir como ser social, o homem, no seu âmago, precisa da convivência com as pessoas, nessa trama da vida o diálogo é elemento essencial. No diálogo se estabelece a troca, a participação, o respeito e a constituição da historicidade humana. Essa interrelação dos sujeitos não acontece somente no âmbito da vida pessoal, é na escola que diferentes grupos estão envolvidos e passam grande parte do tempo nas relações uns com os outros, expressando toda subjetividade que os compõem. Então, a neutralidade deveria ser exercitada por qual desses grupos?

Refletindo sobre o contexto capitalista neoliberal do momento, se observa o homem, enquanto ser histórico-político, sendo constituído em um processo de dominação, considerado incapaz de pensar, numa posição de mero receptor de uma verdade redentora, imposta pelo dominante que vai enredando uma maioria no seu ideário neoliberal. Um processo unilateral no qual não abre possibilidades para uma prática dialógica.

Nessa trama nos encontramos diante de um cenário muito precário. Os sujeitos cumprem um papel isolado e não baseando a ação numa prática coletiva, preparando-se para atuar democraticamente, de forma autônoma em sociedade. Tendem a reproduzir aquilo que lhe é imposto, sem reflexão.

O fazer pedagógico exige reflexão, exige consciência de ser histórico, político e cultural envolvido nesse processo.

Para Freire (1996), a educação é um processo humanizante, de relação com o outro, ou seja, a educação é um processo dialógico, que nasce do conversar e do ouvir “o educador democrático reforça no aluno a criticidade”. Não é possível conceber a educação como mero processo de transferência do conhecimento, ou educação bancária, como era chamada por Paulo Freire, desprovida de criticidade, de reflexão, sem a relação entre educador e educando. Freire defendia uma educação libertadora que visava “fomentar uma consciência política e, por consequência, desalienar os oprimidos e explorados. (FARIAS, 2009)

Nessa perspectiva, a educação está para o desenvolvimento da autonomia, favorecendo a prática democrática e oportunizando a participação de todos nesse processo. Uma prática democrática para uma sociedade mais justa e mais livre que se constrói com as relações e o envolvimento dos sujeitos. Todos, nesse processo, precisam se identificar como integrantes a um contexto sociopolítico.

As reflexões apresentadas até aqui mostram como é diverso o contexto escolar, como cada um é diferente e são essas contradições que nos tiram do campo da neutralidade.

O educando não é um simples receptor de conteúdo e, nem tampouco, o educador pode se reduzir a mera condição de transmissor do conteúdo. Essa é uma situação muito dramática para educação, quando o que se pretende é apenas passar conhecimento. Conhecimento aqui, tido como uma sequência de conteúdos estabelecidos para uma determinada fase ou série, a serem assimilados pelos alunos num determinado tempo, sem considerar os sujeitos na sua subjetividade.

Assim entendido, “ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer tipo de discriminação”. (FREIRE, 1996)

Atualmente, há uma política nada democrática sendo disseminada no âmbito pedagógico. Uma proposta retrógada, porém, de encontro com os interesses neoliberais que visa uma formação técnica, primando pelo desenvolvimento de habilidades e competências que “capacite” apenas para o mercado. Não que se tenha que ser contra o mercado, mas ser contra a forma que esse sistema, o mercado capitalista, se utiliza da educação para benefícios próprios e coloca a escola como instituição neutra e distribuidora de mão-de-obra. É a negação do dialógico, a não aceitação da historicidade do ser.

O processo educativo encontra-se desprovido da coletividade, da criticidade e da autonomia. Com a implantação desse ideário de neutralidade, posto de tal forma como se o papel da escola e do educador fosse apenas transferir conteúdos e formar para o mercado, causando a sensação de robotização da educação, não há espaço para questionamentos, para o diálogo, para as relações humanas. Esse tipo de proposta nega a subjetividade humana e a cultura.

Assim, com o enfático discurso que se propaga a neutralidade como sendo um ato democrático, a educação precisa resistir e ir além do conteúdo. É a função de “provê as necessidades culturais da personalidade do ser humano numa perspectiva de integralidade”. (PARO, 2010)

A resistência e o enfrentamento são ações rebeladas por uma parte dos sujeitos que se veem pertencentes ao processo de humanização da escola. Alguns permanecem incansavelmente engajados em instituições ou grupos que lutam por uma escola pública democrática, laica, com princípios de equidade e acreditam que a escola é o espaço do coletivo, do diálogo e assim, o lugar de disseminação de cultura.

São sujeitos constituídos histórica e politicamente que configuram à escola um lugar de cultura, valores e de apropriação do conhecimento. Têm internalizado que o conhecimento vem da reflexão, da provocação, da dúvida, do ato dialógico desenvolvido pelo coletivo.

Embora possa parecer uma ação sem grandes proporções, agir entre os espaços das contradições é a ação necessária para mudança almejada.

 

Elisangela Ricci

Dárlen Karina Gomes Alcântara

Graciela Moraes de Souza

Kelly Joana Ferreira

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